domingo, 22 de setembro de 2013

Desafio #3 Projeto Pena e Nanquim - Fábula

O trabalho de Ratie

- Antonio Caetano –

Bem no fundo, lá embaixo, nos esgotos da cidade grande, onde as sombras eram as mais assombrosas, e onde os passos nunca eram ouvidos, Ratie, o rato, estava em sua toca, chorando. Triste por causa da bronca que o tio lhe dera.
- Ratie, seu ratinho estúpido! Não suba para fora do esgoto sozinho! E não fale com outros animais que não sejam seus irmãos ratos!
Ratie ajudara uma corujinha perdida no esgoto a achar a saída.
- Agora aquela corujinha vai crescer e vai caçar nossos irmãos à noite! Justo quando os humanos estão dormindo e ficamos mais seguros! Você só atrapalha!
Por isso Ratie ficou bem quieto no seu buraco. Não pensara no perigo que correra na superfície ou no mal que tinha feito a seus irmãos. Ele só queria ajudar a corujinha perdida. Ser um bom animal!
Um belo dia, ou uma bela noite, não se sabia, afinal nos esgotos parece ser sempre noite, Ratie resolveu ir embora. Mas não podia ir sozinho na superfície! Iria, então, para mais fundo, para um lugar onde nenhum outro rato tinha ido.
O Poço Profundo.
Perto do poço ouviu um barulho. Mais rápido que um piscar de olhos Ratie encontrou uma fenda para se esconder e esperou lá, em silêncio. Viu então se aproximar uma borboleta. Voando desengonçada, subindo e descendo, como as borboletas fazem. Ratie se perguntou o que uma borboleta fazia tão fundo no esgoto. Então ela voou para dentro do Poço Profundo.
Bom, pensou Ratie, se uma borboleta que é tão pequenininha e frágil pode ir ao poço, então eu também posso. O Poço Profundo era um cano feio e enferrujado, que descia por um buraco escuro e assustador.
Ratie respirou fundo e se jogou.
Caiu por tanto tempo que até pensou porque continuava caindo. Seu coraçãozinho batia mais acelerado que o normal. Até que viu lá no fundo uma luz muito forte e caiu num lago de água cristalina.
Quando nadou para a superfície ficou de boca aberta. Estava em uma floresta, e a luz do sol iluminava cada árvore e pedra do lugar.
Ratie achava que estava fundo nas profundezas da terra, mas acabara chegando a um belo lugar cheio de luz e verde.
 - Ei! Quem é você?
Quem falara fora uma criatura linda, alta, pelos brancos que brilhavam como uma estrela. Um cavalo com um chifre no centro da cabeça.
- Meu nome é Ratie. Acho que estou perdido.
- Deve estar mesmo! Nunca o vi por aqui. Veja o que fez com o nosso lago! Seu pelo o sujou!
Para Ratie a água ainda estava tão limpa quanto poderia estar.
- Como chegou aqui? – o unicórnio perguntou.
- Segui a borboleta pelo poço.
- Você não pertence a este lugar! Todos têm uma função importante! Eu, por exemplo, deixo puro e saudável tudo o que toco com meu chifre! Não há lugar para criaturas como você por aqui! Estes são tempos perigosos, os homens têm aparecido ultimamente.
De novo a rejeição. O Poço Profundo deveria ser o lugar onde não seria mais mal tratado e mal compreendido. Correu, então, para longe.
Logo depois um esquilo, lá do alto de sua árvore, guinchou:
- Quem é você? O que faz aqui?
- Sou Ratie e cheguei pelo poço.
- Mas o que você faz? Eu, por exemplo, planto.
- Eu também posso plantar!
- Nós esquilos já fazemos isso. Acho melhor você voltar, não tem lugar pra você aqui.
Será que ninguém jamais gostaria dele? Decidiu, então, que ia embora da floresta.
Em outra árvore Ratie viu uma coruja. Aquela era uma coruja adulta e se Ratie vacilasse ela o abocanharia de uma só vez! Mas não foi o que ela fez.
- Está perdido?
- Preciso sair da floresta. Não tenho função aqui. Mas não quero voltar aos esgotos!
- Todos têm função, você só precisa descobrir a sua. Isso faz parte da vida na floresta.
- Mas o unicórnio e o esquilo disseram que não tem lugar para mim aqui. – disse Ratie.
- Isso também faz parte da vida na floresta, mas você tem que fazer a sua parte. – disse a coruja e saiu voando.
Foi quando de repente um barulho muito alto ecoou. E todos os animais começaram a correr assustados.
- O que está acontecendo? – perguntou Ratie.
- O homem está na floresta de novo! Está caçando! – gritou um coelho.
Ratie saiu correndo e rapidamente encontrou um lugar para se esconder, debaixo de uma raiz.
- É isso!  - Ratie percebeu.
Ratie sabia viver sem ser percebido. Podia se esconder em cada sombra, cada rachadura. E sabia usar o ambiente onde estava para se esconder. Gritou para chamar os animais da floresta, desesperados com o barulho assustador dos homens.
Ratie explicou que sabia como salvá-los. E foi o que fez! Ajudou o unicórnio a se esconder perto das árvores de casca clara e galhos nus, e a ficar bem quietinho. Sem fugir! Ajudou o esquilo a se esticar nas árvores de casca da mesma cor que ele, bem quietinho e sem fugir! E desse jeito todos os outros animais se esconderam com a ajuda de Ratie.

No dia seguinte todos estavam sãos e salvos e felizes, e Ratie era o herói da floresta. Sentiu-se feliz e aceito como nunca, pois percebera que tinha uma função, que servia pra alguma coisa e que todos são especiais ao seu modo, só que cabe a cada um descobrir por si mesmo o porquê. 

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